segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

BALANÇO DA VIAGEM

Brasília, 17 de janeiro de 2015 (escrito depois da viagem)

PLANILHA DE PERNOITES

PLANILHA DE ABASTECIMENTO


1) A AVENTURA - Fizemos a Carretera Austral chilena completa, de Puerto Montt a Villa O'Higgins. De moto, foram 1654 km no total (considerando todos os deslocamentos periféricos), dos quais 1017 km no rípio. Eduardo Arrivabene pilotou 280 km a mais, porque conduziu a motocicleta que não quebrou entre Puerto Guadal a Coyhaique no momento em que a caminhonete do resgate levava outras duas motos. Considerando o trecho de 514 km dentro da caminhonete, a aventura somou exatos 2168 km.
2) O CENÁRIO - O Chile é um país espremido entre duas cordilheiras: a dos Andes e a do Mar. Todo o trajeto da Carretera Austral fica entre elas (ou nelas) o tempo todo. Difícil saber quando se está em uma ou em outra. Choveu muito durante o percurso, o que era esperado em razão da altíssima umidade da região. Cachoeiras (estou falando de centenas) descem as montanhas por toda a rota. Lagos, fiordes, glaciares, florestas e bosques encantados, montanhas nevadas e rios velozes foram o cenário típico desta viagem. Cada qual com sua peculiaridade, com detalhes coloridos que impressionam e tocam a alma. Tentei, limitado pela minha incompetência com a câmera, construir material fotográfico digno desta experiência. É uma pena constatar que poucos chilenos têm conhecimento das belezas da Carretera. Tudo leva a crer que ela é mais famosa na Europa e no Brasil do que no próprio Chile.
3) CICLISTAS NA CARRETERA AUSTRAL - O que mais vimos foram ciclistas pedalando pelos 1.247 km da Ruta 7, na maioria europeus, particularmente  franceses, suíços, holandeses e alemães. É notório o encanto que tal desafio tem despertado nesta galera. Também encontramos 3 ciclistas chilenos e 1 brasileiro pelo caminho, ou dentro das 5 embarcações "obrigatórias". Impressiona o número de pessoas que viaja sozinho, fazendo amizades pelo caminho ou nos albergues existentes nas pequenas vilas.
4) OUTROS "TURISTAS" - Os turistas de aventura são frequentes, geralmente em veículos 4x4 ou pedindo carona. Brasileiros, americanos, canadenses e alemães são muito comuns nos pontos mais famosos da Carretera. Motociclistas são mais raros, mas encontramos com cerca de uma dezena deles (nenhum fazendo a rota completa, como nós).
5) DESAFIOS DE PILOTAGEM - Eu acho que a Carretera deve ser evitada por motociclistas novatos, particularmente os que não possuem traquejo no off road. Não sou um expert neste estilo, mas tenho alguma experiência adquirida em outras viagens. Já havia enfrentado um desafio maior pelas areias fesh-fesh da Bolívia. Há muito risco também para quem viaja em 4 rodas nos trechos não pavimentados. A velocidade no rípio tem que ser lenta, porque a facilidade com que o veículo derrapa e o risco de sair da pista são impressionantes.
6) PARCEIROS - Eu pensei que iria ser difícil encontrar novos bons parceiros que me aturassem. Meu estilo de viagem é atípico, porque paro muito para fotografar e fazer filmagens. Gosto de guardar arquivos dessas experiências. Mas, surpreendentemente, acabei encontrando 3 bons parceiros que não se incomodaram comigo. Souberam esperar ou aprenderam a curtir esses momentos da mesma forma que eu. Curiosamente, nenhum dos 3 era chegado a bebidas alcoólicas. Enrique até encarava uma única cerveja preta no final do dia. Arrivabene tomou algumas pequenas doses de destilado para combater o frio. Pascal, nada!
6a) EDUARDO ARRIVABENE foi um parceiro excepcional. Eu não imaginava existir alguém mais organizado do que eu, mas, comparado com o Arrivabene, não passo de um amador. Uma pessoa pronta para qualquer desafio, sempre muito sereno e disposto a ajudar. Não falei antes, mas quando levei a queda, o guidão da minha moto ficou retorcido, impossível de pilotar. Arrivabene desmontou em minutos toda a dianteira da motocicleta, retirou a mesa, as bengalas e num único pontapé ele endireitou o guidão. Nós (eu, o chileno e o belga), não acreditamos no que estávamos vendo. O cara é o próprio McGuiver. Sua paciência e sobriedade para lidar com os problemas da sua moto foram exemplares. Mesmo sob sensação térmica de 2 graus negativos, ele não perdeu o equilíbrio. O chileno Enrique passou por 4 probleminhas enquanto esteve conosco, e foi o Arrivabene que o socorreu. Ele ainda teve a gentileza de fazer café praticamente em todos os dias da aventura, numa micro cafeteira italiana que levou em sua bagagem.
6b) ENRIQUE - Este chileno nos acompanhou por 6 dias na sua Tiger 1200. Um jovem de trinta e poucos anos, culto e bem humorado, conversador e divertido. Demonstrou muito conhecimento das culturas pré-colombianas e da botânica e clima chilenos. Quando nos separamos, em Puerto Yungay, deixou aquela sensação de tristeza, que acompanha o momento de despedida de algum parente ou amigo querido.
6c) PASCAL - Este motociclista belga viajou conosco por 5 dias numa Honda Africa Twin, que já não é fabricada há 2 décadas. Muito sóbrio e calmo em todos os momentos. Falava em inglês claríssimo, sem palavras estranhas, e isso facilitou nossa comunicação. Partiu junto com Enrique de Puerto Yungay. Pascal estava se dirigindo à Ushuaia, como a grande maioria dos viajantes que encontramos. 

Espero que o relato a seguir possa servir de orientação para outros aventureiros que desejem conhecer a Carretera Austral. Não gosto de comparativos, mas ainda não vi, nos 15 países onde estive, uma quantidade tão grande de paisagens belíssimas em espaço tão curto. As palavras não conseguirão descrever o que vimos e sentimos durante o caminho, mas a fotos podem dar uma pequena ideia disso. Forte abraço a todos.

(O diário textualizado e fotografado vai a seguir, em ordem cronológica)

domingo, 18 de janeiro de 2015

DIÁRIO DA VIAGEM

Por Flávio Faria

Brasília, 29 de dezembro de 2014.
EXPLICAÇÕES INICIAIS - Essa viagem pela Carretera Austral chilena, considerada uma das rotas mais belas do mundo, surgiu de uma vontade acumulada há anos pelos dois motociclistas brasilienses envolvidos no projeto: FLÁVIO FARIA (que realiza sua nona viagem internacional e sua quinta passagem de moto pelo território chileno) e EDUARDO ARRIVABENE (que faz sua primeira viagem de grande porte, mas que já atuou profissionalmente em competições de motocross).

Foi um planejamento complexo, em razão da descontinuidade da Carretera, que nos obrigará a fazer 5 travessias de barco através de lagos e mares, que, nesta época do ano, exigem reserva antecipada. Trata-se de um território ermo, parcialmente pavimentado, com mais de mil quilômetros de off-road (só de ida), através de um cenário pitoresco do sul da Patagônia, composto por montanhas nevadas, lagos gelados, fiordes, cachoeiras, glaciares, rios ariscos e um frio de congelar a alma.

Este trajeto exigirá certa habilidade em termos de pilotagem, não tanto pela rodovia em si (que tem sido compactada regularmente), mas pelas estradas vicinais que levam ao "mundo paralelo" da Carretera, geralmente composto de pedras de tamanho razoável, areia e muito rípio (cascalho).

A ROTA: Sairemos de Osorno em direção a Puerto Montt, onde fica o quilômetro zero da Carretera Austral (Ruta 7). Faremos um caminho de descida por toda a rodovia até seu término, um pouco depois da comuna de Villa O'Higgins, no extremo sul da Patagônia. Retornaremos pelo mesmo caminho até Puerto Cisnes, onde tomaremos um ferry-boat até Quellón (Ilha de Chiloé), com cerca de 12 horas de navegação. No total da aventura, serão 7 travessias de barco, com mais de 26 horas de navegação, além dos 2800 km de pilotagem (ver MAPA).

QUILOMETRAGEM PREVISTA: 2800 km, considerando ida-e-volta a Osorno (quilometragem não cumprida).

MOTOS UTILIZADAS: Duas BMW GS650, alugadas em Osorno/Chile.

PERÍODO DA VIAGEM: Entre 1 e 15/1/2015.

CÂMBIO: US$ 1,00 = R$ 2,88 (câmbio turismo); US$ 1,00 = CLP 600,00 (média); e R$ 1,00 = CLP 185,00.



FLÁVIO FARIA

EDUARDO ARRIVABENE

Sobre o Relato, vou fazer algo diferente das últimas viagens, quando fui minucioso em relação a distâncias, abastecimentos, hotéis etc. Desta vez vou falar pouco e fotografar muito. Não vejo necessidade de descrições muito precisas, haja vista se tratar de uma única Rota, para ir e voltar.

NARIZ E SORTE (em Santiago e Osorno)

Santiago do Chile, 1 de janeiro de 2015 


EM SANTIAGO do CHILE
1) Na primeira postagem deste diário me esqueci de falar do meu nobre lema de viagem: NARIZ & SORTE. Foi um lapso não citar essas duas coisas grandiosas que Deus me deu. Sou sempre agradecido por aquilo que me foi dado de graça, pela "graça"da bondade divina. Embora eu ache que Deus poderia ter sido mais econômico no quesito "nariz"e mais dispendioso no quesito "sorte". 
2) A Carretera Austral é um projeto ousado. Está na minha cabeça há mais de 3 anos. Não fosse o apoio do meu parceiro Eduardo Arrivabene, profissional em off road, talvez eu me sentisse inseguro para enfrentar este desafio. Mas, a partir de agora, tudo será alegria e paz de espírito. Iremos e voltaremos seguros e felizes. Nossa precaução em viagens como esta beira a covardia. Certamente isso nos preservará de qualquer risco. Assim espero.
3) Estou achando os preços em Santiago meio exorbitantes. Estive aqui em 2009 e achei tudo baratinho. Agora não. Os vinhos Concha y Toro e Casillero del Diablo estão mais caros que no Brasil. O hotel cobra quase 3 dólares por uma garrafa de meio litro de água (no mercado em frente está a US$ 1,00). Faz parte. "Quem computa não desfruta!".
4) Quando saíamos do Metrô na estação Los Leones, por volta das 10h da manhã, uma jovem grávida desmaiou logo após descer do vagão. Ficou estendida no chão entre a faixa amarela e o bonde. Muitas pessoas correram para ajudar, inclusive nós. Ela estava muito pálida, mas foi rapidamente atendida pelos socorristas. Chato isso, mas resolvi registrar esse acontecimento. Cheguei a filmá-la no chão, mas depois me arrependi.
5) Para encurtar o assunto, posto abaixo as fotos da capital chilena, antes de embarcarmos para Osorno amanhã (dia 2/janeiro), local onde pegaremos as motos para dar início à verdadeira viagem.


Cordilheira dos Andes (vista do avião)

Centro de Santiago
Bairro Providência, Santiago

Tomado um Royal Salute (whiskezinho de 21 anos), comprado do Duty Free

Só alegria!

Árvore centenária, no Centro de Santiago
OSORNO, Chile - 2 de janeiro de 2015

1) Chegamos em Osorno por volta das 15h30, pela LAN Chile. Estamos encantados com a cidade. Passei por aqui em 2012, com meu amigo Wandeco, por suas bordas, sem  navegar por suas entranhas. A cidadela parece cenário de cinema, com arquitetura simples, casinhas de madeira de cores diversas, telhados bem inclinados para suportar a neve do inverno. Tudo bastante acolhedor, com muitas flores, ruas largas, povo simpático e um "micro" aeroporto lotado. A esteira mal cabe metade das malas que chegam nos aviões (que geralmente têm como destino a cidade de Puerto Montt, 100 km adiante).
2) Estamos num hotel muito gostoso, chamado Cabañas Blumenau. Um empreendimento familiar bem cuidado por mãe, filha e neta, todo construído em madeira, com quartos enormes. 
2) Pegamos antecipadamente (e gratuitamente) as motos alugadas na MotoAventura (duas BMW GS650). A Sônia, gerente da loja, foi muito simpática e nos antecipou a entrega das máquinas hoje,  mesmo considerando que nosso contrato de aluguel começaria amanhã. Como siempre, mucho Nariz & Suerte hasta acá. 
3) Vamos a las fotos:

Arrivabene, no "micro" aeroporto de Osorno
Hotel Blumenau
Duendes musicales

Eu e minha moto GS650
Nós e as "nossas motos"




NA CARRETERA AUSTRAL (de Hornopirén ao Parque Queulat)

3 de janeiro de 2015

 De OSORNO a HORNOPIRÉN - 262 km rodados hoje, sendo 38 off road.
1) Deixamos Osorno por volta das 9h30 e seguimos em direção a Puerto Montt, onde fica o km zero da Carretera Austral (Ruta 7). Fizemos rápida entrada na cidade de Frutillar para fotografar o vulcão Osorno, nevado e envolto em nuvens, espelhado pelas águas do Lago Lhanquihue. 
2) Pelo caminho encontramos um motociclista solitário chileno, chamado ENRIQUE, que está nos acompanhando desde Puerto Montt. Ele nasceu em Concepción, mas mora em Santiago. Está numa Tiger 1200 da Triumph, a mesma moto que tenho em Brasília. Trata-se de uma pessoa inteligente, agradável, com muito interesse em culturas pré-colombianas, apaixonado por poesia e estradas, que também veio do mundo off road. Praticava Enduro até há pouco tempo. Considerando que meu parceiro Eduardo Arrivabene foi profissional em motocross, aparentemente sou o único amador no estilo fora-de-estrada no grupo. Agora estamos em três, e eu vou atrás comendo a poeira deixada pelas motos dos parceiros, tentando aprender com eles.
3) Pegamos um ferry boat de 45 minutos em Caleta La Arena e seguimos mais 60 km (38 de rípio) até Hornopirén, onde pernoitamos. O rípio (cascalho) foi tranquilo na maior parte do trajeto, mas houve cerca de 8 km com muitas pedras soltas, onde tivemos que ir bem devagar. O restante do trecho não pavimentado foi rodado entre 50 e 80 km/h. Bem tranquilo até aqui.
4) Temperaturas agradáveis até  o momento, com alguns trechos com sensação térmica entre 9 e 16 graus. Na maior parte do tempo fez calor, particularmente após Puerto Montt. 
Vamos às fotos de hoje. Estou postando em tamanho menor (clique nelas para AMPLIAR):

Vulcão Osorno, visto de Frutillar
Na travessia de Caleta La Arena


Como Enrique, na travessia de La Arena













No trecho de rípio

  

No rípio

Naviera Austral
Puerto Montt
Lago Lhanquihue
Hornopirén
Anoitecer em Hornopirén
4 de janeiro de 2015

De HORNOPIRÉN ao PARQUE QUEULAT (pernoite em La Junta) - Quilometragem de hoje: 221 km, sendo 139 no off road. Quilometragem acumulada desde Osorno: 483 km rodados, sendo 177 km off road.

1) Agora estamos viajando em quatro. Como já havia dito, desde ontem o chileno Enrique está viajando conosco. Hoje foi a vez do solitário Pascal, motociclista belga que viaja numa Honda Africa Twin com mais de 20 anos de existência, que juntou-se a nós desde Hornopirén. Pascal fala idioma flamenco e francês, mas tem um inglês excelente e bem fácil de entender. Nenhuma dificuldade de comunicação até aqui.
2) O cenário que nos envolve é de uma beleza impressionante. Não conseguimos ficar um minuto sequer sem dar de cara com belezas inigualáveis. Montanhas, lagos, cachoeiras, blocos de gelo, rios de coloração azul turqueza, fiordes, mares serenos e árvores centenárias. Tudo isso sob um céu de azul intenso, com sol a pino sobre nossas cabeças. Mesmo assim, prevalece o frio quando há exposição ao vento.
3) Hoje (dia 4) foi bastante exaustivo. Iniciamos o dia com a travessia de ferry boat entre Hornopirén-Leptefu (3h20) + 10 km de rípio até Fiordo Largo + outro ferry boat Fiordo Largo-Caleta Gonzado (45 min) + fila de espera, que resultaram mais de 5h de viagem.
4) Dos 58 km que separam Caleta Gonzalo de CHAITÉN, cerca de 47 km são de rípio totalmente esburacado. Não é à toa que os turistas preferem pegar uma embarcação direto para Chaitén, que evita 3 travessias e esta buraqueira medonha. Cada minuto hoje foi desgastante. Não só pelos buracos, mas pelo fato de eu estar levando duas bolsas grandes (com barraca, saco de dormir, muita roupa de frio, ferramentas etc.) presas por cordas e redes elásticas no banco da moto. O impacto causado por essas depressões na pista faz com que essas malas "balancem" para os lados, causando aquela sensação de insegurança. Por diversas vezes pensei que iria me estabacar no chão. Foi decepcionante saber que a buraqueira prevalece na Carretera (na parte não pavimentada). Creio que o governo chileno desistiu de soluções paliativas para concluir a pavimentação de toda a rodovia. Muitas obras em andamento. Quem vier para cá no ano que vem, provavelmente não verá mais rípio algum neste trecho.
4) Fiquei surpreso ao saber, in loco, que CHAITÉN não é mais uma cidade fantasma. Vale lembrar que esta cidade praticamente desapareceu do mapa depois da erupção do vulcão Chaitén, em 2008. As cinzas foram retiradas integralmente, embora ainda haja cenário de destruição bastante presente em algumas ruas.
5) Chegamos a LA JUNTA, uma cidade a 70 km do Parque Queulat, depois das 21h, sob chuva forte, com temperatura de 7 graus. A motocicleta do Arrivabene apresentou problemas e ficamos parados mais de 1 h na estrada. A moto apagava e não sustentava o giro, enquanto o motor dava "tiros" em meio a uma fumaça negra expelida pelo escapamento. De repente, não mais que de repente, depois de muita oração e pensamento positivo, a moto voltou a funcionar. Estranho, mas isso aconteceu mesmo.

Enrique, com ferry da Naviera Austral


Hornopirén com maré baixa

Nossos novos parceiros: Enrique (de preto) e Pascal (de vermelho)

Imagens da travessia de Hornopirén-Caleta Gonzado

Cachoeira pelo caminho
O grupo em Caleta Gonzalo, depois da travessia de barco



Eduardo Arrivabene numa ponte muito comum por aqui
O grupo: Flávio, Enrique, Pascal e Arrivabene

Imagens do caminho
5 de janeiro de 2015

NO PARQUE QUEULAT - 140 km rodados hoje, dos quais 108 km no rípio - Total a viagem: 623 km, com 285 km off road.

1) Saímos de La Junta para conhecer o Parque Queulat por volta das 9h. Deixamos a cidade com a intenção de fazer longa caminhada até o Ventisquero Colgante (foto da capa deste blog) e, por isso, vestimos roupas leves. Um frio de 12 graus (com sensação térmica próxima de zero) nos surpreendeu pelo caminho. Mas deu pra suportar!
2) O cenário do Parque é de floresta fechada, com muita umidade. Dizem por aqui que é praticamente idêntico ao do filme "Senhor dos Anéis". Esta região fica no mesmo Paralelo da Nova Zelândia (onde foi rodado o filme) e possui vegetação muito parecida. Não posso garantir isso, mas pensei que estava no próprio Paraíso Bíblico. Uma beleza de pirar!
3) Pegamos o pior trecho de rípio até agora. Muitas pedras do tamanho de um punho fechado, lama, buracos (milhares), poças d'água e obras com seus maquinários fizeram o trecho parecer maior do que os 70 km trafegados (só de ida). Parece que estou reclamando, não? Mas estou convicto que pilotar no rípio é algo fantástico, ainda mais trafegando dentro desse cenário maravilhoso da Ruta 7.
4) Hoje percebi uma falha no planejamento desta viagem (burrice total). Poderia ter pernoitado em Puyhuapi, que fica no caminho obrigatório do nosso destino, ao invés de ficar em La Junta. Puyhuapi está a 22 km do Parque Queulat e, como voltamos para nos hospedar novamente em La Junta, amanhã teremos que refazer o mesmo trecho de hoje, com todos os seus probleminhas. 
5) Aconteceu algo INACREDITÁVEL!!!!!! Conheci um casal de brasileiros no mirante do Ventiqueiro: Rogério Mourão e Adriana, que vivem em Belo Horizonte. Falei que eu era mineiro de Astolfo Dutra e ele falou o nome de algumas pessoas que conhecia de lá. Claro, quase todos parentes meus. O mais curioso é que quando falei do meu irmão Marco Túlio (que é professor na UFMG), quase caímos para trás. Eles haviam feito mestrado juntos em Florianópolis e continuam mantendo convivência próxima em BH. Êta mundo pequeno, sô!
Mas vamos às fotos de hoje:

Ventisquero Colgante


Ventisquero Colgante

Ventisquero Colgante

Depois de Puyhuapi

Floresta do Parque Queulat

Ventisquero Colgante

Rogério Mourão e Adriana (amigos de meu irmão em BH)
Arrivabene, chegando em Puyhuapi

DE COYHAIQUE A PUERTO TRANQUILO

6 de janeiro de 2015

De LA JUNTA (voltando de Queulat) até Coyhaique - 285 km rodados hoje, dos quais 87 km de rípio. Total de viagem: 908 km, sendo 372 km no rípio.

1) Começo este relato muito emocionado com o trecho de hoje. Não me vem a cabeça nenhum superlativo que traduza as belezas naturais que acabamos de ver. Deus exagerou na dose quando criou isso aqui. Esta região do Chile é muito diferenciada. Só me lembro de ter visto algo parecido no cinema, em filmagens feitas nas montanhas canadenses ou no Alasca. A Patagônia chilena não se parece em nada com a argentina, que é muito árida, com ventos fortíssimos. Por aqui os ventos são brandos e prevalece a floresta fechada, com árvores robustas, muita umidade e chuvas diárias. Vimos diversas cachoeiras caindo das montanhas geladas e muitos rios nervosos de águas azuladas, que se oxigenam nas pedras que surgem pelo caminho. 
2) Pilotamos 7 horas para trafegar a quilometragem de hoje, de apenas 285 km. Há justificativas plausíveis para esta média baixíssima: a) 5 h de chuva gelada, com temperaturas baixas; b) a parte de rípio tinha muita lama, pedras e poças d´água; c) muitos trechos interrompidos por causa das obras na rodovia; d) curvas e mais curvas em caracóis; e e) paramos dezenas de vezes para fotografar e filmar a natureza exuberante do caminho (nesse quesito, todos os meus parceiros são excepcionais. Curtem cada pedacinho da estrada, fotografando tudo).
3) Chegamos, por diversas vezes, muito próximos aos cumes gelados. E isso não tem preço!
4) Estamos no hostal Gladys, muito bem localizado. O único problema é que a dona do local parece ter Transtorno Obsessivo Compulsivo com limpeza. Uma velha chata e grosseira, que reclama o tempo todo. Se não fosse o fato de já termos desmontado nossas bagagens, tomado banho etc., teríamos procurado outro lugar. 
5) Coyhaique, até aqui, foi o único lugar que guarda, de fato, características de uma cidade. Trata-se da capital regional de Aysén, com excelentes serviços e cassinos. As demais localidades podem ser consideradas vilarejos. Todas muito bonitas e agradáveis.
Mas não quero ser redundante falando maravilhas de uma mega maravilha. Vamos às fotos de hoje.

Existem estradas...

Trecho de rípio sob chuva

Rípio e lama

Trecho em obras

Imagens do caminho


Lago La Torre

Flávio, Eduardo, Enrique e Pascal

Imagens do caminho

Imagens do caminho
7 de janeiro de 2015
DE COYHAIQUE A PUERTO RIO TRANQUILO - Quilometragem de hoje: 236 km, sendo 135 no rípio. Quilometragem acumulada na viagem: 1144 km, dos quais 507 km no rípio.

Até o fim da Carretera não haverá mais pavimento, desde Villa Castillo. Quase não falo do Pascal porque ele é tipo "comequieto"... Só observa!
1) Hoje foi o dia das “parcerias” e da paciência. Ontem Enrique havia furado o pneu. Se fosse no Brasil teríamos colocado aquele “macarrãozinho” para tapar o furo, mas ele, como chileno, resolveu vulcanizá-lo. Esse serviço só terminou depois das 13 horas. Logo ao sair, ele resolveu comprar uma bomba elétrica de encher pneus. Quando tentou usá-la descobriu que o seu plug automotivo não funcionava. Claro que nosso engenheiro mecânico, Eduardo Arrivabene (o próprio McGuiver) resolveu tudo, porque o problema era um fusível 15A que estava queimado. Depois, ao tentar pegar a estrada, um parafuso do capacete articulado do Enrique soltou-se embaixo do isopor que protege a cabeça. Lá se foi mais uma hora. Arrivabene resolveu tudo. Cheguei à conclusão que se dermos um cotonete para o Eduardo, ele será capaz de construir uma bomba atômica. 
2) Sim, no meio do rípio entre Villa Castillo e Puerto Tranquilo encontramos uma família de 9 pessoas numa SUV 4x4 com o pneu arriado. Enrique usou sua bomba novinha para socorrê-los. O motorista deste carro havia destruído 2 rodas em apenas 90 km de rípio.
3) UAU, LEVEI O PRIMEIRO TOMBO!!!!!! Não me passava pela cabeça fazer mais de mil km no rípio sem levar um tombinho. O problema foi que eu caí no trecho mais “mamão-com-açúcar” até aqui. Isso apenas prova que a Lei de Murphy funciona o tempo todo. Não se pode relaxar nesse tipo de piso. Enrique estava na minha frente a mais de 80 km/h levantando uma poeira danada. Perdi completamente o campo de visão numa subida íngreme. E, de repente, surgiram na minha frente dezenas de pedras “modernistas” (comparadas àquela “pedra no meio do caminho”, do Carlos Drummond de Andrade). Levei um tombaço cinematográfico!!!! Mas está tudo bem. Estou adequadamente vestido para este tipo de contratempo. Se quiserem visitar a fazenda (ou latifúndio) que comprei, ela se localiza no km 41 depois de Villa Castillo (Obs.:“comprar fazenda” é uma expressão dos motociclistas off road, que significa levar um tombo).
Fotos de hoje:


Deixando Coyhaique

Cenário da estrada

Cenários

Nuvem bipolar

Reserva Cerro Castillo

Villa Castillo

Villa Castillo

Rio 

Caracoles exatamente a 1000 km de viagem

Reserva Castillo

Lago General Carrera (o maior do Chile)